julho 04, 2013

Amor?

Saio da sua casa encantado
     e não consigo parar de pensar
                         em mim.

maio 21, 2009

sem revolução alguma

qual é o problema? deslizar é realmente previsível, estou antecipando, com um medinho gostoso, meus dedos gelados do frio nu, tocando seus lábios nus e quentes, nem cheguei ao umbigo ainda. ela está ainda mais ansiosa, vejo nos seus olhos, nos segundos em que dou uma volta a mais, finto que não vou, os únicos segundos em que ela se arrisca a abrir os olhos. eu sei exatamente o que estou fazendo, mas sou capaz de imaginar muito mais. o jogo é a pegada da pele, nem o suave das pontas dos meus dedos se compara a essa tez, como faço para não chegar nunca? o mistério vai escorrendo da minha palma à sua pele, ela sente deliciosamente e eu finjo que não é comigo, mas abaixo do umbigo as formas mudam, a textura, pelinhos abrem precedentes para o que sei que vou encontrar, ouço um suspiro quando adentro a relva baixa e sei.

não precisaria mais continuar quando sei, mas sei e quero, nada basta, sei também que a esta altura o meu gelado não se sente mais, e o calor do meu delicioso temor, o calor dos desejos, o calor do mistério passeando de um corpo a outro, o calor incandescente daquele corpo ali, onde a vou tocar, desfez o gelado. não é o frio mais quem se anuncia no próximo suspiro, um suspiro surpreso e assustado, que deseja uma visita mais longa, mas antes de deter-me para acariciar-lhe o clitóris descoberto, umedeço finalmente meus dedos em seus lábios prontos. retorno, outro suspiro discursivo, "fique mais, por favor", outro "não vá embora, volte", e assim mais uns catorze que evoluem rumo ao "venha logo".

tranquilamente faço a hora, parece que este toque acalma o terror sofrido a cada movimento, sei o que há pouco não desconfiava, e destemo. nossas ansiosidades se separam em desejos ainda maiores, ela mal pode esperar e eu mal me contenho, por minutos até que a deito de bruços, subitamente ainda que de leve, apreso-lhe o quadril para penetrá-la, a infinitésima vez quase tão arrepiante quanto a primeira, o silêncio se faz ainda mais audível a cada pedaço de segundo, posso ouvir seu coração batendo, o instante que espera, em que todo fazer dela se desfaz para atentar e sofrer uma única ação. é a sua voz passiva.

quantas outras vezes não foram assim? nenhuma outra mulher comigo soube sofrer este segundo como ela, e da mesma forma intensa já me vi na voz passiva aguardando-a apenas, sequer respirando, enquanto ela (agora outra ela) me escalava e pousava a seu gosto. mas não esta, que tem toda sua história de que não quero me lembrar, esta comete o deslize de confiar-me as costas para encarar o mundo, me perde o medo enquanto deseja que lhe assombre. eu sinto agora o mistério escapando-me dos poros enquanto ela temerosa e delicadamente aguarda pelo terceiro segundo primeiro.

poupo-os do indescritível instante, espero encarecidamente que o entendam e entendam minha economia ante o desperdício de força, imaginação e palavra em descrevê-lo. dez mil vezes depois ainda me faltariam palavras, circunstância que fosse.

então me esqueço, porque é justo se esquecer nessa hora, e me dedico. não é sempre a mesma coisa, mas é sempre igualmente diferente, todos os nomes cruzam minha cabeça mas eu des-temo suspirá-los calando-me. ah, outra vez ela se põe a falar na língua dos seus pais, uma que eu finalmente e divinamente desconheço, embora possa perceber a diferença entre o pedido-quase-ordem a que me submeto, claro, e as rimas que me oferece quando se deita sobre mim, ligeiramente antes de ajoelhar-se.

dez minutos depois, resolvo arriscá-la. e se me citou neruda sem eu saber? não pode ser, ele não rima. não me interessa, não quero outra paixão rendida, não quero mais que outro desejo que me corresponda, um fluxo para trabalhar junto. sei que tocá-la mais embaixo dos seus lábios a excita, mas o mesmo silêncio de não pedir me dá a entender que ela é que não se arrisca a assumir o prazer que esconde ali.

deito-a com as costas na cama. não nos falta mistério, mas existe um segredo ali que eu quero mistério. seus pés me caminham até o pescoço, repouso-os ali enquanto ergo suas pernas e quadril. coloco-me na entra do seu ânus, escorrego dali onde a encontro já molhada, ouço seu suspiro de vontade, medo, alívio. aponto outra vez, o silêncio se torna de novo aquele, mas os olhos piscam em farol alto, não ignoro mas dissimulo, aquele é o instante dela - não há surpresa alguma para mim, percebo que esta é outra história daquelas. entro.

o gemido agora é distinto e é alto e teme e goza e quer e não quer que eu continue. eu continuo, claro. este som lembra um choro, de quem se vê desacreditada do que queria crer, eu deixo suas pernas escorregarem e apoio seu corpo em meus joelhos, acaricio-a com a mão e torno a movimentar seu corpo para o meu. o que ela desacredita ali é algo dela.

acho que na língua dela, a palavra para não é muito parecida com algum dos seus gemidos. na língua dela que não é a minha, não foi a minha, não vai ser a minha. ela gozou nesse dia, aquele em que ela também não dormiu e não quis ficar para tomar chá logo cedo. eu não liguei outra vez porque conservadoras são como virgens, depois que se encaram, se escondem, e só depois se entregam. eu dei sorte que ela não se entregou a mim. ela deu sorte se se entregou a ela mesma.

fevereiro 11, 2009

bingo (145)

>| é a revolta.
só falta entender o desejo.